Quero
ir para outra estrela.
Quando
saio do mundo imaginário dos meus pensamentos onde projeto um mundo de
bonanças, igualdades, amor ao próximo onde o homem respeita os
dizeres que “o direito dele termina onde começa o direito dos outros”, onde os sonhos
de liberdade, de cultura, de arte são realizados, onde todos têm saúde,
segurança, educação, repentinamente me deparo com um mundo torpe, cheio de
mazelas, onde os poderosos são a lei, onde o povo só tem direito ao trabalho e
nada mais.
Alguns
pensam que somente em nosso país isto acontece. Não. Acontece em todos os
lugares, inclusive no órgão que deveria representar todos os povos do mundo
defendendo os mais necessitados. Até na ONU
os poderosos ditam as regras.
Acontece
que infelizmente em nosso país a situação é a mais crítica. Onde já se viu
priorizar um evento que não acrescenta nada ao bem estar do cidadão, ser mais
importante que saúde, segurança, educação?
Vejo ao
redor, estradas sem condições de tráfego, cheia de buracos, mal projetadas,
onde os órgãos responsáveis preferem colocar placas, sonorizadores,
quebra-molas, radares ao invés de corrigirem os defeitos. Uma vida não vale
nada para eles. Vejo adolescentes cometerem crimes e ficarem impunes, vejo
também um cidadão trabalhar de sol a sol, com toda a honra e honestidade e
receber um mísero salário. Vejo os corruptos darem as desculpas mais esdrúxulas
e estas serem aceitas por seus colegas que também fazem parte da camarilha e
usam dos mesmos artifícios para amealharem fortunas que deveria ser revertida
em benefício do povo e ainda que mesmo sendo considerados culpados continuam
impunes.
Os
poderosos, com o famélico Pantagruel, sonham cada vez mais em se alimentar dos
menos favorecidos, sugando deles tudo o que pode, em nome de um capitalismo
obsceno, onde o que menos importa é o fator humano e o fator lucro impera acima
de tudo. De que vale uma vida, se outra pode ser colocada em seu lugar? Somente
se o lucro for grande, não a vida, mas o trabalho daquele ser vivente é que
será preservado.
Em meus
pensamentos um tanto anarco-socialista, sonho com um mundo onde a meta de todos
os homens não seria acumular fortunas, mas sim gerar riquezas, onde eu poderia
comer o pão sem o remorso de pensar que talvez o agricultor que plantou o trigo
não tivesse o suficiente para alimentar sua prole e que no fim da tarde espera
seu genitor na porta de um casabre aguardando para ver se naquele dia o pai
conseguiu algo para comer.
Queria
um mundo onde não houvesse segredos pois onde os encontramos podemos ter
certeza de que algo que afetará negativamente a humanidade está sendo
engendrado. Um mundo de amizade, compreensão, atitudes verdadeiramente
comunitárias de ajuda, o vizinho sempre pronto para me estender a mão, e eu
sempre recíproco.
Queria
um mundo onde a noite ao deitar-me eu o fizesse tranqüilo, não tendo que me
preocupar com os irmãos que estão morrendo de fome, ou mesmo trucidados pela
sanha cruel dos fanáticos religiosos e dos sedentos do poder, sempre em busca
de mais e mais fortunas e conquistas. Um mundo que todos os homens fossem
tratados de igual para igual, não importando o credo, a raça, suas tendências
sexuais, seus pensamentos.
Como
posso dormir sabendo que hoje tive no mínimo quatro refeições e que mesmo próximo
de mim, existem crianças, idosos, enfim seres humanos que a quatro dias não
comem nem mesmo uma códea de pão, que irmãos morrem de fome enquanto se gastam
fortunas com animais (não que estes também não mereçam ser bem tratados, muito
pelo contrário, mas gastar fábulas de dinheiro com eles e esquecer nosso irmãos
humanos, isto eu acho muitíssimo errado).
Queria
que no mundo, se abolisse as fronteiras, que a religião fosse aquele que
fizesse o homem melhor, cada um seguindo a que mais o atendesse nesse mister,
sem fanatismo, sem óbolo nem dizimo, sem pastores nem padres, nem monges,
rabinos, enfim que a religião viesse do coração dos homens, e que todo o
conhecimento sobre a religião fosse compartilhado com todos, sem se guardar
segredos. O mesmo seria com a política, sem segredos, com tudo aberto e
transparente, onde a vontade do povo fosse a lei suprema.
Sonho
com nosso mundo com todos os povos cultos, toda a humanidade sadia, todos os
homens com suas riquezas, todas as crianças recebendo o carinho de seus pais,
todos os políticos agindo em prol do povo, com honestidade, um mundo sem
corrupção, todos amando o próximo como a si mesmo, contribuindo um com o outro
sem esperar retribuição, todos se dando as mãos fraternalmente, sem preconceito
nenhum.
Ah, como
sou ingênuo. Neste pequeno, não, ínfimo planeta acho que sem um expurgo
espiritual de proporções cataclísmicas, isto nunca vai acontecer. O jeito então
é conseguir uma carona e mudar para outro sistema solar onde possa encontrar um
mundo assim, ou então encontrar pessoas que pensam como eu e juntos tentarmos
mostrar aos que nos rodeiam as vantagens de sermos honestos conosco mesmo e com
o próximo.
Ah! Como
sou ingênuo, como sou estúpido de acordo
com o que certas pessoas dizem a meu respeito. Nunca me mudarei para planeta
melhor nenhum, sabendo que deixaria aqui a miséria e quase ninguém para lutar
para defender nossos irmãos que cada vez mais precisam de pessoas que pensam
como eu e alguns mais que conheço. Seria um ato de covardia minha se partisse e
os deixasse se arrastando sozinhos aqui. Aqui ficando, mesmo que não surtisse o
efeito que quero, me arrastaria junto com eles, a procura de meios para mitigar
nossos sofrimentos.
Não. Não
quero mais mudar para outra estrela. Por tudo e por todos, mesmo sofrendo,
quero ficar aqui junto com meus irmãos, apesar toda a miséria que impera.
Se é
para o bem de pelo menos um dos meus irmãos, que ele fique sabendo que eu fico.